PenseLivre On Line

Como dizia apropriadamente Samuel Wainer: A PENA É LIVRE, MAS O PAPEL TEM DONO.
Os blogs permitem que, por algum momento, possamos ter a pena livre e, ao mesmo tempo, ter a propriedade do papel.
Neste blog torno públicas algumas reflexões pessoais, textos e publicações pinçadas da web e que me fizeram pensar e repensar melhor a realidade.
Este blog é uma pretenção cidadã e...nada mais!

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domingo, 11 de janeiro de 2015

Moi aussi, je ne suis pas Charlie.


As charges ofensivas, algumas exageradamente ofensivas
(como esta acima), que ridicularizam a fé religiosa de
povos que vem sendo submetidos a atos terroristas prati-
cados por nações ocidentais sob a justificativa de guerra
ao terror, certamente produzem os seus efeitos colaterais.



Após ter refletido bastante sobre os fatos ocorridos na França no último dia 7 e a morte dos jornalistas do periódico Charlie Hebdo (uma espécie de Pasquim europeu) confesso que Je ne suis pas Charlie! 
 Leitor esporádico do também satírico, porém mais sério, jornal Canard Enchainé, eu não conhecia o Charlie Hebdo.
Após ver algumas edições do periódico e as charges publicadas com referência aos muçulmanos, o Islã, o Alcorão e ao profeta Maomé, pude entender o ódio despertado.
Obviamente, o atentado com mortes não pode ser justificado nem defendido.
Para entender porque o atentado ao Charlie Hebdo aconteceu e outros eventos semelhantes podem continuar acontecendo é necessária uma reflexão que abranja um contexto muito mais amplo.

Sabidamente existem algo em torno de seis milhões de muçulmanos na França. Essa população está, em sua maioria quase absoluta, submetida a visível descriminação social e econômica nas periferias das grandes cidades. Em viagem recente pude observar essa realidade em bairros periféricos de Paris.
Por outro lado, já se sabe que os autores dos atentados têm ligações com a Al-Qaeda e com o Estado Islâmico.
Ou seja, possivelmente, tudo isto está conectado com a guerra mais ampla e sem fronteiras decretada pelos EUA após o 11 de setembro e apoiada por outras nações ocidentais e cujos alvos são praticantes do Islã e muçulmanos.
Foi divulgado hoje que Amedy Coulibaly, francês e filho de senegaleses, disse: O que estamos a fazer é perfeitamente legítimo. Vocês (referindo-se à França e aliados ocidentais) não podem atacar e depois ficarem à espera de não serem atacados. Estão a fazer-se de vítimas como se não percebessem o que está em causa. Vocês e a vossa coligação vão lá regularmente lançar bombas, matando civis e combatentes."
Ou seja,  não se trata apenas de um atentado à liberdade de expressão, como está sendo exaustivamente enfocado pela grande mídia ocidental.
O Charlie Hebdo, mesmo já tendo sido alvo de violência anterior em 2011, foi identificado e escolhido como um inimigo a ser combatido nessa guerra global.
Não deve ter sido por nada que nas grandes manifestações de hoje em Paris marcaram presença figuras públicas inegavelmente conectadas com essa situação de beligerância: Angela Merkel, David Cameron, Benjamin Netanyahu e o Secretário da OTAN Jens Stoltenberg (Ex-primeiro ministro da Noruega que assinou em 2008 um acordo com os EUA para gastar oito bilhões de euros na compra de meia centena de caças americanos para substituir sua frota de F-16). Todos eles, conforme citado pelo site Stop the War coalition "dão suporte a esta guerra nos últimos 14 anos, mas se recusam a aceitar alguma responsabilidade pelas consequências".
E, a julgar pelo que temos ouvido dessas e outras autoridades, a guerra parece que não terá fim. Por um lado continuarão sendo assassinados civis e inocentes no mundo árabe-muçulmano e, em retaliação, mais inocentes serão mortos em outros países.
Tudo em nome de uma guerra que não é nossa!
Não tenho dúvidas de que os grupos radicais da direita fundamentalista, tanto na França como no resto do mundo, já começam a tirar proveito desses atentados.
 E, triste ironia, o satírico Charlie Hebdo é considerado de extrema esquerda. Um choque de extremismos?!
Espero estar enganado mas, por enquanto, JE NE SUIS PAS CHARLIE.

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